Playlist:






☽❀☾



Estava novamente sentada em um dos bancos daquela praça. Os últimos raios solares se despediam no horizonte, e a noite começava a tingir o céu com os tons roxos e lilases do crepúsculo. O lápis em minha mão traçava as belas formas que eu observava todos os dias nas ultimas semanas. Embora tal ato não fosse necessário, pois eu havia sido agraciada com uma memória fotográfica que me permitia fazer meus desenhos sem ver o motivo de minha inspiração mais do que uma vez ou outra. Mas, a fascinação por observar tal esplendor era viciante, fazendo com que eu me locomovesse ao mesmo lugar todos os finais de tarde. Às vezes eu me comparava a um satélite, a sensação hipnótica causada por algo tão belo era impossível de ser contrariada, além de ser deliciosa e me permitir traços perfeitos.

Minhas orbes analisavam a fonte que lembrava a delimitação do numero oito, bordas brancas e azulejos azuis com alguns desenhos assimétricos no fundo. A água desta refletia a luz dos prédios e dos postes que havia ali por perto, fazendo com que feixes luminosos em tom prateado bailassem pelas esculturas de gesso. Posicionas em lugares estratégicos por entre os chafarizes as estátuas de estilo neoclássico personificavam belas donzelas de aparência Greco-Romana.

Minutos depois entre uma linha e outra fixei meus olhos em um ponto bem ao fundo da fonte, reconheci um rapaz vindo da direção oposta a que eu estava sentada. Um sorriso tímido surgiu em meus lábios sem que eu ao menos notasse tal reação. Usava jeans de lavagem desgastada, o cabelo castanho dessa vez semicoberto pelo capuz cinza de seu agasalho, a camisa negra de gola “V” contrastava com sua pele branca, deixando-o ainda mais belo. Minha atenção se voltou novamente para seu rosto, observando aqueles olhos puxados que brilhavam de uma forma indescritível, magnetizando-me cada vez mais.

Essa cena se repetia dessa mesma forma a cerca de um mês e meio. Antes de passar por mim ele lançava-me um sorriso. Era sempre dessa maneira, sem trocarmos uma única palavra. De certa forma não havia necessidade, e talvez nenhum dos dois quisesse atrapalhar o outro. Não importava, apenas aquela comunicação silenciosa era suficiente, misteriosa e até divertida. Quando ele passou por mim senti o perfume já conhecido que ele sempre emanava. Deixando um rastro que me embriagava. Fechei meus olhos e tentei aproveitar o máximo possível daquilo.

Diferente das outras vezes em que o aroma desaparecia depois de algum tempo, dessa vez ele se perdurou, supus que talvez minhas narinas finalmente tivessem memorizado aquela fragrância que eu aprendera a adorar. Abri os olhos já mirando meu desenho e passei a cuidar os últimos detalhes do desenho, enquanto inspirava um pouco mais profundamente. Depois de mais alguns traços fechei meus olhos e apoiei a cabeça no encosto do banco, senti que estava sendo observada e reabri os olhos levantando rapidamente devido ao susto que levei. Ele estava parado ali atrás de mim, observando-me desenhar a Deus sabe-se lá há quanto tempo. Por um instinto fechei o caderno que antes ainda deixava o desenho acessível aos seus olhos.

– Você desenha muito bem. – disse ele numa voz suave, doce e com um disfarçado vestígio de divertimento, provavelmente pela minha reação. O sorriso torto em seus lábios só confirmava o fato de que ele não se arrependia de estar me observando as escondidas.

- O...Obrigada. – falei sem graça. "Deus porque eu tinha que gaguejar justo agora?"

– Desculpe, sou DongHae, Lee DongHae. – o rapaz estendeu a mão, agora sorrindo abertamente, seus olhos puxados brilhavam ainda mais quando vistos de perto.

– Prazer, sou Choi HeeYoung. – Disse enquanto apertava sua mão, reunindo toda a minha concentração em não gaguejar. Estranhos me deixavam nervosa, mesmo sendo um estranho não tão desconhecido assim.

– Senhorita Choi.. – ele começou de modo cauteloso. Dali não sairia boa coisa. – Tenho uma proposta a lhe fazer... – seus olhos continuavam cuidadosos observando minhas reações, apenas fiz um movimento com as mãos indicando que ele prosseguisse. – Eu sou artista plástico e preciso da opinião de alguém sobre um quadro recente. E, estava me perguntando se você poderia fazer o favor de vê-lo e dizer o que acha. – Ao terminar a frase seus olhos mantinham certo ar enigmático. Havia mais alguma coisa ali que ele não havia me dito. "Afinal, porque ele escolheria uma estranha que ele via desenhando todos os dias? Não sou uma critica de artes plásticas especialista em quadros, se é que isso existe."

– Não sei se é uma boa ideia... – tentei argumentar, mas ele me interrompeu.

– O quadro está na escola de Artes aqui perto a Sensory Inspirations conhece? – perguntou ele como se estivesse falando de qualquer coisa simples, me fazendo ter um ataque interno.

– Quem não conhece a Sensory Inspirations? – perguntei rindo com certo sarcasmo, ele estava falando da melhor escola de Artes Plásticas como se não fosse nada, não poderia deixar passar.

– Porque será que todos têm a mesma reação quando uso uma forma simples ao me referir a S.I. ? – olhei-o com a sobrancelha levantada. Imaginando que aquele belo rapaz parado a minha frente tinha sérios problemas de julgamento. – Já entendi! Mas, então, aceita ou não?

– Se eu disser que não você iria ficar tentando me convencer do mesmo jeito até me vencer por cansaço não é? – perguntei e ele sorriu de um jeito infantil que era totalmente fofo. – Tudo bem eu vou.

Fomos para a escola que ficava só a meia hora de caminhada dali. Aproveitamos esse tempo para fazer algumas perguntas que provavelmente estavam no fundo de nossas mentes a algum tempo. Descobri que ele não era aluno da S.I. e sim um dos professores, ministrava aulas a cerca de dois anos. O mais estranho foi que ele me disse que não conseguia pintar algo que aprovasse a quase um ano. Segundo ele, não havia nada que despertasse seu interesse para que pudesse criar um quadro novo. Nada até a misteriosa inspiração do quadro que eu iria ver. Questionei-o sobre o motivo de ter parado de pintar antes disso, pois geralmente quando acontece alguma coisa assim o motivo é marcante, mas ele não disse nada, mudando o foco da conversa para mim.

DongHae ficou surpreso ao saber que eu era jornalista, e que desenhava apenas por um hobby, disse-me que eu deveria tentar aprimorar minhas técnicas. O que me deixou sem graça, também não desenhava a uma boa temporada, mas pela simples falta de tempo, e usando as palavras do próprio, por falta de algo que me interessasse. Claramente não disse essa ultima parte a ele, seria um tanto estranho.



☽❀☾



– Faz algum tempo que não pinto então, por favor, não repare em minhas falhas. – Pediu ele me olhando novamente de modo enigmático. Aquilo estava começando a me deixar cismada, apenas assenti enquanto adentrávamos mais na sala.

Só aquele lugar já era mágico. Pinturas e desenhos diversos enfeitavam as paredes e a janela tinha uma vista linda de onde se podia observar uma avenida ladeada por sakuras que floresciam devido ao começo da primavera. Suas flores de tom rosado quase branco pareciam brilhar quando as luzes dos postes as iluminavam. DongHae me analisou uma ultima vez e então se aproximou do cavalete coberto por um tecido vermelho. Sorri pra ele, nem eu mesma entendi porque, talvez tentando encorajá-lo e dizer-lhe sem nenhuma palavra que sua obra provavelmente estaria linda, ou então pelo fato de que ele tinha o poder de me fazer sorrir. Não sei dizer ao certo. Só sei que ele sorriu de volta e então revelou o quadro.

Quando ele tirou o tecido que encobria a tela senti meus joelhos fraquejarem, eu não acreditava no que via, a pintura era uma das mais perfeitas que eu tivera a chance de apreciar na minha vida. Tratava-se de uma garota de cabelos quase negros e pele âmbar sentada em um banco. Seu rosto demonstrava doçura e concentração, os olhos miravam uma prancheta em seu colo, enquanto suas mãos trabalhavam em algo que não se era visto. A suavidade dos traços era fascinante, seus cabelos pareciam balançar ao vento, mas isso não podia se comparar ao esplendor das asas que saiam de suas costas. Não eram asas de anjo, sua tonalidade e textura lembravam mais as de uma borboleta.

No entanto, o que mais me espantou não foi o primor daquela imagem, a delicadeza de suas cores, ou as sakuras, como aquelas que haviam do outro lado da rua, materializadas ao fundo da tela dando um ar mágico ao conjunto. O que realmente me assustou foi o fato de que aquele ser hibrido de garota e fada tinha uma forma peculiar no olhar, bem como sua coloração, eles eram cor de avelã e se assemelhavam exatamente aos olhos que eu conhecia tão bem, pois os via sempre no espelho. Foi então que finalmente absorvi aquela informação. A bela imagem a minha frente, na verdade era uma representação minha. Aquela era a cena que ele devia ver todos os dias, porém de uma forma mais linda, mágica, e claro, com asas.

Passei a olhar do quadro para os olhos castanhos que me observavam num misto de preocupação e curiosidade. Sentia-me surpreendida, lisonjeada e completamente sem palavras para expressar a ele o que eu estava sentindo, ou o que eu havia achado da pintura. Sorri tentando passar esse turbilhão de pensamentos, pedindo para que ele conseguisse interpretar meu olhar enquanto eu ordenava minha mente a dizer-lhe algo. Felizmente DongHae pareceu entender e sorrio daquela forma meiga, quase infantil.

– Não sei bem o que dizer... – comecei a falar, ainda o fitando – É esplêndido! As cores, a textura, tudo.

– Então você gostou? – perguntou ele, visivelmente alarmado com o fato de eu ter percebido que eu fora sua modelo.

– Sim, não há como não gostar. – confortei-o, mas então fiquei um pouco mais séria, eu realmente não conseguia responder as perguntas que perambulavam por minha mente. – Mas por que... Porque eu?

– Não podemos escolher a origem de nossa inspiração. – disse ele se aproximando da tê-la, enquanto permitia-se admirar seu próprio trabalho. – Eu apenas fiquei com a sua imagem na cabeça por vários dias, sempre a via perto daquela fonte desenhando. Sua expressão. – ele apontou para o quadro e sorriu – Foi o que me deixou cativado, como não acontecia a muito tempo. Então resolvi ceder a esse instinto e pintá-la.

Olhei novamente para a tela, mirando as asas, levei minha mão direita ao ponto em que elas estavam pintadas. – Mas, se me permite a pergunta, porque as asas? – questionei-o. DongHae colocou sua mão sobre a minha e me fitou, seu olhos pareciam duas pedras de ônix brilhantes, havia algo hipnotizantes neles que não permitia que eu quebrasse o contato visual.

– Algumas mulheres são como fadas têm o poder de enfeitiçar. – ele se aproximou um pouco mais, eu podia sentir sua respiração pesada batendo no meu rosto. Por um momento desviei o olhar de seus olhos, observando seus lábios rosados e depois voltando a encará-lo, cada vez mais próximo. O formigamento em meu corpo havia voltado, e, o ar parecia denso demais para ser respirado. – Acho que você acabou me enfeitiçando. – sussurrou ele roçando os lábios pela linha do meu maxilar.

Senti minhas pernas fraquejarem e meu corpo estremecer, mas antes que eu pudesse sentir que meus joelhos cederiam fazendo-me cair senti as mãos deles enlaçando minha cintura e trazendo-a para junto de seu corpo. Seus lábios seguiram em uma trilha de beijos pelo meu pescoço, deixando para trás rastros de calor. Passei os braços por cima de seus ombros tentando dar mais equilíbrio a meu corpo, enquanto DongHae fazia o caminho inverso para encontrar nossas bocas. Senti sua língua roçar meus lábios pedindo passagem, não ofereci resistência alguma, deixando que ele iniciasse um beijo lento e sedutor, que aos poucos se tornou mais exigente.

Uma de suas mãos continuou mantendo-me aconchegada a ele, enquanto a outra se entrelaçava em meus cabelos, sua língua explorava todos os cantos possíveis de minha boca e eu fazia o mesmo com a dele, como se dessa forma nós pudéssemos desvendar todos os mistérios um do outro, deixando os beijos cada vez mais cálidos. Espalmei a mão em sobre seu peito sentindo que o coração dele também estava descompassado. Meu corpo parecia queimar nos lugares onde nossas peles se encontravam como lava espalhando-se sobre mim, ao mesmo tempo em que recebia leves choques que eriçavam todos os pelos de meu corpo, deixando-me ainda mais tremula do que já estava. Nossas bocas se separaram em busca do oxigênio já escasso. DongHae me deu um ultimo beijo e então encostou sua testa na minha, fitando-me com um olhar afetuoso enquanto sorria, numa reação automática um sorriso também se esboçou em meu rosto enquanto o olhava com ternura.

Ele afundou o rosto em meus cabelos e me abraçou, esperando que nossa respiração voltasse ao normal, ficamos assim por um tempo, o som do ar entrando e saindo de nossos pulmões era a única coisa que se podia de ouvir na sala. Afundei o rosto na curva de seu pescoço me inebriando com o cheiro dele. Aquilo me trazia uma sensação de paz enorme. Cedo demais senti nossos corpos se separando, DongHae se abaixou para pegar algo no chão, o caderno com meu desenho. Observou a imagem que eu vinha aprimorando nas ultimas semanas. A fonte da praça perfeitamente replicada naquela folha, mas, o foco principal era um rapaz que caminhava ao lado dela. O mesmo sorriso enigmático que me encantava combinado com os olhos brilhantes que chamavam a atenção de quem os visse. A imagem era inconfundível, e ele já havia notado de quem se tratava desde a hora em que estivera me observando finalizá-lo.

– Talvez eu também devesse lhe perguntar o porquê de me desenhar? – questionou-me sorrindo daquela mesma forma misteriosa, mesclada com certo divertimento.

– Posso dizer algo parecido sobre seu discurso de inspiração, eu também me sentia exatamente assim nos últimos dias. Desenhar-te me trazia uma calma que não experimentava há muito tempo. Alguns sentimentos surgem de um modo inexplicável e arrebatador. Acho que posso me considerar enfeitiçada também. – conclui sorrindo e ele tomou meus lábios novamente.



F I M



Nota Da Autora: Bom espero que tenha gostado dessa estória que surgiu num pequeno surto de inspiração dessa mente desconexa. Desculpem alguns trechos que podem ser considerados Radom^^





10 Comentários

  1. Nossa, eu amei! Do começo ao fim foi maravilhoso! Muito bom, de verdade *-*

    ResponderExcluir
  2. Eu não gostei desta oneshot, EU AMEI.
    Tem toda uma sensibilidade que quase consigo sentir a personagem principal narrando em minha cabeça.
    A história segue delicada do inicio ao fim.
    Pryh parece ter encontrado o seu estilo nesta shot - isso eu já disse a ela - e precisa escrever mais histórias assim.
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. estou imprecionada com a delicadeza desse texto. Fazia algum tempo q não conceguia visualizar um personagem criando vida frente dos meus olhos. Pelo menos nao em fics. Mas foi exatamente isso q aconteceu. Parabéns. Ficou excelente

    ResponderExcluir
  4. Pois e!
    Unnie, voce conseguiu!
    Outro dia eu estava conversando com a Pryska sobre as fics que tentam usar palavras para mostrar vocabulario. Mas voce conseguiu fugir disso, de verdade.
    Sua narracao foi excelente no quesito desenvolvimento, na minha humilde opiniao. Nao precisou usar recursos linguisticos demais ou palavras rebuscadas demais. So fez acontecer e pronto. (Estou numa fase de rejeicao a fics assim. Inclusive as minhas OTL HSAUDHIUHIUHAIUHSDIUH)
    Meus sinceros parabens!
    *-*

    ResponderExcluir
  5. pelo amor de aigo,estou com uma palpitação no peito que não cessa...
    estou completamente apaixonada! não dá pra explicar o quanto essa fic ficou perfeita! acho até que perfita seja pouco! não se preocupe com nada,ficou encantadora!

    ResponderExcluir
  6. @BigodedoKiSeop
    Então acho que você captou exatamente o sentimento o qual tentei passar. No momento em que estava escrevendo estava me sentindo da mesma forma, e as músicas da Playlist só ajudaram... Então resolvi me entregar as linhas e deixar as sensações fluírem, e parece que deu certo *-*

    ResponderExcluir
  7. Eu gostei bastante, a forma como voce escreve me fascina. E não encontrei nenhum trecho random, está tudo bem escrito.

    ResponderExcluir
  8. @Akaimatsumoto
    Olá que bom que gostou, eu tinha dito que podia ter umas partes radom porque em algumas partes dei uma viajada básica kkkk

    ResponderExcluir
  9. Nossa! Nunca li uma Web que eu imaginei totalmente TUDO. Cada detalhe. É perfeita! Você devia escrever um livro *-* Espero ler mais WEB's suas. Inda mais se for do SuJu. Beijos. ><

    ResponderExcluir
  10. @NaniSama
    Olá Nani, que bom que gostou, acho que a maior gratificação pra alguém que escreve estórias é cosneguir levar o leitor pra dentro dela. Quanto ao tema, nem se preocupa SUJU é o que me dá 90% da inspiração kkkk. E sobre o livro, acho que ainda é cedo pra eu pensar nisso, tenho que melhorar um pouquinho mais ^^

    ResponderExcluir