E-mail e Intrusos



Já havia quase dois anos que Priscila estava tentado conseguir um emprego naquele escritório de advocacia, e por mais que se esforçasse a vaga sempre era concedida a outra pessoa. Quando ela viu aquele e-mail referente à resposta de sua ultima entrevista quase teve um ataque cardiovascular. Após decidir que iria abri-lo em casa e mandar uma mensagem para cada uma de suas duas melhores amigas Pryh, como a chamavam, voltou a trabalhar normalmente.
            Duas horas depois ela estava chegando ao prédio onde moravam, porém quando foi estacionar o seu carro teve uma pequena surpresa.
- Mas que...? Arrê! – Disse a garota fumegando o carro com os olhos. Alguém, provavelmente um visitante, presumiu ela, havia estacionado seu veículo na vaga que pertencia a Priscila.
            Depois de praguejar internamente o dono desconhecido do carro ela seguiu para o estacionamento destinado aos visitantes, que infelizmente ficava um pouco longe dos elevadores.
– Eu juro que se eu ficar sabendo quem é o dono desse carro reclamarei com o sindico! – ela reclamava resignada enquanto pegava uma pilha de processos que trouxera para estudar em casa.
            Após muito esforço, equilibrando a pilha de processos num dos braços, pegando a bolsa no banco de trás e tendo que fechar a porta do carro com o quadril, ela trancou o mesmo e se dirigiu aos elevadores. Para sua sorte, um rapaz moreno, de feições orientais, alto e com um lindo sorriso de covinhas estava saindo do elevador, e segurou a porta para ela enquanto lhe sorria de um jeito fofo, mas estranho, como se soubesse exatamente como era passar pelas mesmas situações.
– Muito obrigada pela gentileza. – Ela disse sorrindo.
– Não foi nada, para que andar você está indo? – ele perguntou, sua voz era firme, mas com uma essência terna. 
– Quinto. – ela respondeu correspondendo com o mesmo sorriso que daria a um amigo de muito tempo.
– Okay. – ele apertou o botão correspondente, e se voltou para ela antes de soltar a porta do elevador.  – Bom eu vou indo, foi um prazer.
– O prazer foi meu, obrigada pela ajuda. – sua expressão facial demonstrava o agradecimento que sentia.
– Por nada, nos vemos pelo prédio. – ele acenou e saiu.
            Assim que a porta do elevador se fechou e a “ficha” de Pryh caiu. – “Nos vemos pelo prédio”? Mas eu nunca o vi por aqui!? – Pryh estava confusa, tentou recordar-se de já tê-lo encontrado pelos corredores, mas com certeza não o vira, ou teria se lembrado.

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– Alguém abre a porta, minhas mãos estão meio ocupadas! – Pryh gritou impaciente, estava do lado de fora do apartamento esperando que Luana ou Kelle abrissem a porta já que era meio impossível destrancá-la sem deixar seus documentos ou a bolsa caírem. – Droga onde estão essas duas? Isso tá pesado! Talvez eu devesse mesmo ter pedido ajuda a aquele rapaz.
Ela já estava para apertar a campainha com o braço outra vez quando a porta se abriu revelando uma morena com o cabelo roxo escuro meio molhado, usando um hobby rosa.
– Foi mal Pryh, a Ryo saiu e eu estava no banho. – disse ela num tom de pedido de desculpas.
– Não tem nada Lele, acho que me estressei um pouco no estacionamento não devia ficar descontando, só me deixe colocar isso em cima da mesa antes que eu fique sem braços. – disse entrando no apartamento, seu braços começavam a doer.
Lele pegou metade da pilha das mãos de Pryh, tomando o cuidado de manter os papeis longe dos cabelos molhados.
– O que foi que te estressou? – Perguntou Kelle estranhando, já que a estressada da casa não costumava ser a mais nova.
– Nada importante. – respondeu a garota, mas por sua cara devia ser sim – Só que justo hoje que tinha que trazer essa pilha de documento para estudar, alguém parou o carro na minha vaga e eu tive que estacionar na área de visitantes.
– Olha pelo lado bom pelo menos agora você não precisa ir à academia, a musculação tá feita! – nesse momento ficou com medo de que Pryh lhe tacasse algo na cabeça, respirou aliviada quando a companheira de apartamento começou a rir e logo se juntou a ela. Kelle sempre tinha esse tipo de comentário pra fazer sobre as situações, sejam para zuar ou para animar a pessoa sempre poderiam contar com ela. Talvez por isso que ela se desse tão bem em sua carreira de atriz no teatro. Apesar de ainda estar tentando ser mais reconhecida, ela atuava muito bem e ainda tinha a seu favor o fato de também dançar, qualidade que nem todos os atores possuem.
Depois de levar a pilha de documentos para seu quarto Pryh voltou para a sala e se jogou no sofá esperando Lele terminar de secar o cabelo. Nesse momento lembrou se novamente moço desconhecido, por mais que forçasse a memória ela realmente não o tinha visto em lugar algum daquele prédio. Ficou assim pensativa até que a voz de Lele a tirou de seus devaneios.
– Que cara é essa? Ainda estressada com o cara do carro? – ela agora trocara o hobby rosa por uma calça jeans bordada e uma regata rosa bebê.
– Sim, mais não vou esquentar a cabeça por culpa do intruso. Estava pensando no carinha do elevador,  acho que não conheço todos os moradores do prédio.
– Que carinha? – Lele não estava entendendo nada.
– Um moço super gentil que me ajudou com a porta... – Pryh então contou a ela sobre o dialogo estranho.
– Já pensou que ele pode ser o intruso do carro? – perguntou ela depois de ligar os fatos.
– Não acho. – Pryh não sabia o porquê, mais havia se afeiçoado ao “moço do elevador”.

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Priscila, Luana e Kelle dividiam um apartamento no Koreatown localizado no distrito de Mid-Wilshire em Los Angeles. As duas primeiras se conheceram em uma palestra que assistiram assim que Priscila mudou-se do Distrito de Yuma no Arizona para L.A... Pryh sempre teve a fotografia como um hobby, embora nos últimos tempos não tivesse tempo para isso por conta do trabalho. Sempre que podiam iam a mostras de fotografias juntas, e no fim se tornaram amigas. Kelle conhecia Pryh desde quando eram adolescentes, tendo se separado apenas no período entre o ingresso das duas em faculdades diferentes. Depois de algum tempo ela acabou se mudando para fazer pós-graduação em Teatro na UCLA, devido a seu ótimo desempenho acabou conseguindo um contrato com uma das principais empresas de teatro de Los Angeles, chegando, atualmente, ao cargo de Produtora. Logo depois disso as três resolveram ir moraram juntas, já que Ryo e Pryh procuravam um apartamento que fosse um pouco mais perto de seus locais de trabalhos, que acabou coincidindo com um dos apartamentos que Lele havia olhado uma semana antes para si mesma. 
Ryo se tornou a diretora de fotografia dos conceituados clubes, o Posiedon’s Club, apesar de parecer algo simples, todos aos painéis, e exposições que aconteciam no salão do local tinham de passar pelas mãos dela. Naquela tarde ela estava no estúdio terminando de montar o esboço do banner de entrada do Salão de festa para entregarem para a gráfica.
– YuJin já descobriu qual vai ser o tema dos painéis principais do clube no próximo mês?
– Sr. Kwon marcou uma reunião para segunda, mas posso adiantar que ele irá pedir que alternasse as fotografias entre paisagens e flores da sua escolha e algo que referencie dança, já que temos um novo professor. – respondeu a assistente calmamente enquanto estava guardando algumas pastas no armário.
– Okay, por acaso o professor já começou a trabalhar?
– Um minuto que vou verificar – disse a loira saindo da sala.
Ryo continuou a selecionando algumas fotos, enquanto esperava sua assistente que retornou cinco minutos depois.
– Só irá começar amanhã, parece que ele se mudou para a cidade a pouco e ainda esta terminando de se instalar.
– Tudo bem amanhã de manhã quero falar com ele, agora, por favor, deixe as fotos que eu editei na gráfica. – disse Ryo passando um CD para YuJin.
– Okay amanhã quando chegar elas estarão na sua mesa.
– Obrigada.
– Ryo, já pensou em quais flores ira usar nos painéis do salão principal?
– Orquídea, bailarinas para ser mais exata. Acho que vou usar algumas junto com as fotos das coreografias do novo professor. Sabe como molduras. – ela explicou serenamente.
– Bem pensado, e vai montar uma daqueles painéis explicando um pouco sobre a espécie da flor, certo?
 – Adivinhou. – Luana sorriu, YuJin parecia estar aprendendo rápido.
– Mas, essas flores não são complicadas de encontrar?
– Sim, bem observado, mas sei de alguém que pode me ajudar, e se quero que isso aconteça devo ir embora para que ainda tenha uma chance.
– Já passou do horário do seu expediente pode ir que eu termino de arrumar sua mesa depois de levar as fotos à gráfica. – falou a assistente, pois a mais velha parecia cansada.
– Brigada YuJin. – Ryo sorriu agradecida – Bom vou indo, até amanhã. Você também vê se não fica até muito tarde. – emendou ela.

-X-
           
Ryo mal havia aberto a porta e Pryh, agora sentada no tapete da sala, pernas cruzadas, recostadas no sofá, com um pote de sorvete nas mãos. Kelle esta ao seu lado lendo um livro.
– Hey, achei que fosse dormir naquele estúdio hoje! – Priscila se virou para trás com um bico.
– É melhor não enrolar, ela está ansiosa – disse Lele de um jeito preocupado. Ryo deixou sua bolsa e uma pasta no sofá e se sentou no tapete perto de Pryh, roubando um pouco de sorvete.
– Passas ao rum? – perguntou ela, pegando novamente a colher das mãos de Priscila.
– Lele comprou pra mim quando veio do teatro. – respondeu a outra pegando outra colher que estava em cima da mesa.
– Adivinhei que ela estaria nervosa, só não imaginava que o estresse seria tanto. – completou Lele balançando a cabeça.
– Mas isso foi culpa do intruso. – respondeu Pryh um tom mais alto.
– Qual dos dois? – quis saber Lele.
– Pryh e Lele do que vocês estão falando? – Ryo estava perdida na conversa.
– Você não reparou em um maldito Audi estacionado na minha vaga da garagem não? – disse Pryh de má vontade.
– Intruso numero um detected. – disse Lele rindo.
– E o numero dois?
– Não tem dois, o outro não é intruso. – Pryh fez um bico e continuou – Ele não incomodou muito pelo contrário, então não vou chamá-lo de intruso.
– Que? – agora sim que Ryo não entendeu nada.
– É só um rapaz que me ajudou no elevador eu trouxe uma pilha de processos e a porta estava fechando ai ele a segurou só isso.
– Mas bem que ele poderia ser o dono do carro. – implicou Lele.
– Não pode ser ele. – replicou Pryh e fez outro bico.
– Está defendendo até desconhecidos agora? – Perguntou Ryo rindo.
– Viu, não sou só eu que faço essas perguntas.
– Aish Lele! – Pryh ameaçou de jogar o pote de sorvete na cabeça da amiga, mas não o fez, optou por explicar seus motivos. – Bom como eu disse antes, não acho que o intruso e o moço do elevador sejam a mesma pessoa, ele tinha cara de quem estacionaria na própria vaga.
– “Cara de quem estacionaria na própria vaga” é nova pra mim. – Lele riu do argumento.
– No caso na vaga dos visitantes não é? – perguntou Ryo.
– Na verdade não, ele disse “nos vemos pelo prédio”, ou seja, ele mora aqui. – respondeu Pryh após uma colherada do sorvete.
– Ou vem visitar alguém.
– Acho que não Ryo, ele deve ser o novo vizinho. – disse Lele se lembrando da movimentação que vira no corredor.
– Desde quando temos novos vizinhos?
– Pryh, se você passasse menos tempo trancada acho que perceberia que o casal que morava no apartamento ao lado se mudou há umas três semanas, e há uns dois dias alguns carregadores estavam levando móveis pra lá. – Kelle olhava para Priscila como se ela fosse um alienígena por não notar isso.
– Ah, tá. – respondeu Pryh ignorando a primeira parte da frase.
– Então ele poderia ter se enganado de vaga. – disse Ryo.
– Ainda acho que ele não é o dono do Audi. – a garota continuava firme na teoria.
– Okay eu desisto. – disse a outra batendo a mão na testa.
– Lele, ela é cabeça dura não teima. – completou Ryo rindo e colocando sua colher em cima da tampa do pote de sorvete.
Pryh simplesmente as ignorou as duas e terminou o pote de sorvete em silêncio. – Bom Agora que estamos todas aqui vamos ler o e-mail?
– Sim – disse Lele puxando o notebook que estava na mesa de centro para perto delas e se sentando no tapete, lendo o e-mail em voz alta, já que amiga não conseguiria.

“Prezada Srtª Santos,

Através do presente venho informar que uma nova entrevista foi marcada para dia 30 do mês corrente. A Srtª deverá comparecer ao prédio da empresa as 08:30 horas munida dos documentos da entrevista anterior.
Aguardamos sua presença.
Tenha um bom dia.

Liz Brandom.
Diretora do núcleo de contratações.

            – O que isso significa? – Era Priscila quem perguntava, estava meio assustada, pois já havia passado por uma entrevista.
            – Se você não sabe, nem eu. – respondeu Ryo.
            – Uma entrevista eliminatória, deve haver bem poucos concorrentes para a vaga agora, então as pré-seleções devem ter terminado e você chegou “a final” – respondeu Lele simples.
            Pryh e Ryo olharam para ela com uma cara espantada.
            – O que foi? Fazemos isso com os candidatos a atores para as peças, Pryh você devia ter percebido pelo e-mail.
            – Então, essa ultima entrevista é daqui duas semanas... – disse Ryo observando a data do e-mail, parecia um tempo razoável para acalmar os nervos da amiga, ou piorarem.
            – Pelo menos vou ter tempo para me preparar psicologicamente... – disse Pryh fazendo muxoxo.
            – Pode ir parando com essa cara, porque eles não iriam se dar ao trabalho de ver você mais uma vez para nada. – replicou Lele dando uma bronca de mãe.
            Ryo apenas sacudia a cabeça afirmativamente concordando.
            – Mas... – Pryh pensava no fracasso de outrora
            – Sem, mas. – interrompeu Lele, usando o tom de bronca. – Continue trabalhando normalmente com sua calma de sempre.
            – Tá bom MAMIS! – disse Pryh fazendo bico, e depois se rendendo a uma risada. – Ainda bem que tenho vocês para manter minha sanidade mental.
            – E você tem isso? – Luana perguntou só para provocá-la.
            – Arrê Ryo! Eu sou normal sim. – disse Priscila cruzando os braços e a fuzilando com o olhar.
            – Sim, muito normal. – Lele disse ironicamente entrando na brincadeira, não poderia deixar de rir.
            – Acho que eu estou com fome... – disse Pryh do nada.
            – Anormal e buraco negro. Você não acabou de tomar um pote de sorvete? – perguntou Ryo alarmada.
            – Mas era só para me acalmar. – Pryh fez uma cara que lembrou o gato de botas do desenho Shrek.
            – Tudo bem, você venceu. – disse Ryo rindo.
            – Eba! – Pryh abraça as duas amigas pelo pescoço.
            – Ás vezes acho que ela poderia fazer uma ponta em alguma peça, com essas caras e bocas, mais o jeito que enrola nos julgamento daria uma boa atriz.
            – Nem zoa Lele. – Pryh balançava a cabeça freneticamente os olhos esbugalhados, ela tinha um pouco de medo de palco, o que era estranho já que não tinha nem um pouco de medo nos julgamentos.
            – Ela não parece estar zuando. – respondeu Ryo, também olhando estranho pra Lele com uma mistura de divertimento e susto. Todas caíram na risada, e depois de discutir sobre o que comeriam acabaram pedindo uma pizza.

[ Leia o Capítulo 02]


7 Comentários

  1. Juliana Padalecki

    Nossa Pryh ta legal seu fic to adorando ler parabéns amo historias assim, Beijos.

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  2. Haha, tenho certeza que o intruso é o mesmo do elevador qq

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  3. Pode ser e pode não ser, só nos proximos capiltulos pra enteder XD

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  4. O que acha que precisa ser melhorado?
    Nada

    O que mais gostou no capítulo?
    Da amizade entre elas

    Oi melamor sz
    Vim aqui encher seu saco tambem 8D
    Sou uma unnie chata que te encher em todos os lugares 8D~
    Eu estou relendo DI e chorando de rir desde o primeiro capitulo! Lembra quando você veio me falar dela?
    Eu lembro. E só quero dizer que eu amo essa fic e eu vou reler ela agora 8D
    E tchau Q ♥

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  5. @Ryo

    Primeiro, Unnie vc não é chata não!
    E agora quem ta rindo sou eu, lembro bem sim, como vou esquecer quando te abordo do nada dizendo que você estava numa fic cuja existência você nem desconfiava XD Mas no fim você gostou e tivemos uma autora feliz pra caramba...feito agora

    Bjo Bjo ♥

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